quinta-feira, 2 de abril de 2009

Dias Cinzas, por Patricia Dourado














Bukowski, por Thais Almeida Prado











Colcha de Retalhos, por Natália Intasqui Lopes







O inimitável arlequim, por Caio Monteiro

Palavras do autor:

"Pois bem, esse trabalho nasceu de uma parceria com dois grandes amigos. Erick Martorelli, aluno do filmworks da AIC, e Ricardo Celestino, que acabou de se formar em Letras (...)

Esse ensaio partiu então de uma adaptação feita pelos dois em 2006 de um conto do Neil Gaiman chamado A Paixão do Arlequim. Foi publicado como conto escrito em 1999 se eu não me engano e em 2001 como história em quadrinhos. Baseado nos personagens da Comedia Dell'Arte, é uma espécie de versão contemporânea da história em que o Arlequim apaixonado entrega seu coração para a Colombina. Nessa versão do Neil Gaiman, mais especificamente, faz isso pregando seu coração na porta da casa da Colombina, que no fim da história acaba levando o coração para uma lanchonete e o come junto com uma fritada de batatas e bastante ketchup. Coloquei uma fotografia desse quadrinho numa das pranchas de referências. (...)



Pensando a partir daí em referências estéticas para o ensaio, comecei a pensar nessa metalinguagem de trazer os quadrinhos para a fotografia e me veio logo na cabeça a lembrança dos artistas da pop art que viviam fazendo esse tipo de relação, o que me pareceu uma referência legal. Talvez alguma pintura do Lichtenstein exemplificasse isso melhor, mas coloquei na prancha a Campbell's Soup I do Andy Warhol, porque, apesar de apresentar outro tipo de metalinguagem que desta vez não trata especificamente de quadrinhos, esta pintura me chama mais a atenção já pelas características cromáticas. Desde o início pensei que gostaria de trabalhar apenas com cores primárias, e tendo em vista que o tema fotografado pediria amarelo e o vermelho principalmente, me chamou a atenção na pintura do Warhol o contraste bonito entre o vermelho da lata e o fundo totalmente branco que a destaca. Foi um elemento que resolvi absorver na produção da fotografia. O vidro de ketchup em uma das fotografias é também uma referência sutil porém direta.



A prancha seguinte mostra uma pintura barroca do Caravaggio chamada A incredulidade de São Tomé. Enquanto eu montava a disposição dos elementos da fotografia no dia do ensaio, o Erick ajustava com o equipamento de luz e eu comecei a prestar atenção nas sombras projetadas. Pensei como a iluminação a princípio deveria ser clara e de certa forma uniforme, afinal viria supostamente de uma luminária de lanchonete, mas comentei na hora algo como "ela vai comer um coração humano, a luz bem que pode ser mais dramática do que isso". Dessa brincadeira acabamos fazendo alguns testes e tomamos na decisão de usar contrastes fortes de luz e sombra. A pintura do Caravaggio é então uma tentativa de traduzir a minha intenção, dos artistas que eu conheço é o que trabalha de forma mais interessante essa questão da dramaticidade pelo contraste entre fortes focos de luz e a escuridão total.



Explicadas as referências, acho que resta apenas falar um pouco sobre o processo da produção de objetos e do ensaio em si. Desenvolver esse trabalho me deu a chance de fazer algumas constatações curiosas, como por exemplo o número pequeno de pessoas que tem em casa um simples talher de metal liso como o que eu queria usar, sem cabo colorido ou algum ornamento "fru fru". Por sorte na casa de um amigo a mãe dele guardava ainda os talheres que foram usados na sua festa de casamento e os emprestou. A mesma proporção vale para pessoas que tem um simples prato branco e redondo, ou ao menos vale para a minha cozinha e as pessoas para quem eu pedi durante aquele dia. Mas dessa vez nem os pratos do casamento serviram e tive que comprar um prato novo mesmo. Aproveitando a ida ao mercado fui até a seção do açougue em busca de alguma carne que pudesse lembrar um coração na fotografia. Segundo o rapaz que cuidava de lá a melhor opção seria uma lingua de boi ou os rins. Comprei a língua e algumas horas depois tive meu momento Dr. Frankenstein recortando, modelando e adaptando meu falso coração. Não sem a ajuda de uma amiga que cursa Psicologia e já teve um semestre de aulas de anatomia na faculdade. Acredito que com algum esforço talvez dê até pra enganar!

Isso resolvido e algumas técnicas utilizadas para ressucitar as batatas fritas que já estavam murchas e feias, o ensaio rolou numa boa. A produção, considerando a montagem e a realização do ensaio, foi realizada em 1 noite madrugada adentro. Para as fotos, cerca de 50 que no fim reduzi para 2, utilizei uma cabeça de 250w comprada na Santa Efigênia alguns dias antes e alguns corretores de isopor para fazer o rebatimento da luz, emprestados pelo laboratório de fotografia da minha faculdade. O Photoshop foi usado apenas para tratar a temperatura de cor que tinhamos conseguido, amarelada demais na minha opinião, mas nada além de alguns ajustes."

TRIVIA:

Eu: Então cara, será que você tem alguma carne parecida com um coração humano?
Açougueiro espantado: Poxa não sei não, mas coração?
Eu: Não, não é pra comer! É que estou fazendo um trabalho e...
Açougueiro espantado: Ah sim! Tipo uma macumba?